A radiocirurgia estereotáxica, apesar do nome, não é um procedimento cirúrgico com cortes, mas sim uma modalidade de radioterapia extremamente precisa. Ela utiliza feixes de radiação de alta energia, focados com exatidão milimétrica sobre o tumor ou lesão-alvo, geralmente em uma única sessão ou em poucas sessões. O objetivo principal não é remover fisicamente o tumor no momento do tratamento, mas sim administrar uma dose ablativa de radiação que danifica irreparavelmente o DNA das células tumorais. Esse dano impede que as células se multipliquem e, eventualmente, leva à sua morte, iniciando um processo biológico que se desenrola ao longo do tempo.
Imediatamente após a aplicação da radiocirurgia, o tumor não desaparece nem muda visivelmente na maioria dos casos. A radiação age primordialmente no material genético (DNA) das células-alvo. As células que recebem essa dose massiva de radiação podem não morrer instantaneamente. Muitas delas morrem ao tentar se dividir (um processo chamado catástrofe mitótica), enquanto outras podem iniciar um processo de morte celular programada (apoptose) semanas ou meses depois. Pode ocorrer também uma reação inflamatória inicial na área tratada, como resposta do corpo à radiação e às células danificadas.
Com o passar das semanas e meses, os efeitos da radiação tornam-se mais evidentes. O primeiro objetivo alcançado é o controle do crescimento tumoral. As células danificadas perdem sua capacidade de replicação, e o tumor para de crescer. Subsequentemente, à medida que as células morrem e são reabsorvidas pelo organismo, o tumor tende a diminuir de tamanho. Essa redução, no entanto, é um processo gradual e pode levar de seis meses a vários anos para atingir seu ponto máximo, dependendo do tipo de tumor, seu metabolismo, o tamanho inicial e a dose de radiação utilizada. Em alguns casos, especialmente em tumores benignos, o tumor pode não encolher significativamente, mas permanece estável e inativo, o que também é considerado um sucesso terapêutico.
Outro efeito importante da radiocirurgia ocorre nos vasos sanguíneos que nutrem o tumor. A radiação danifica as células endoteliais que revestem esses pequenos vasos, levando ao seu fechamento gradual (trombose e obliteração vascular). Essa interrupção do suprimento de sangue e oxigênio contribui significativamente para a morte das células tumorais (necrose). Ao longo do tempo, o tecido tumoral morto pode ser substituído por tecido cicatricial (fibrose) ou pode permanecer como uma massa necrótica e inativa, que pode até apresentar calcificações em exames de imagem futuros.
Portanto, o acompanhamento após a radiocirurgia é essencial e realizado através de exames de imagem periódicos, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada. Esses exames monitoram as mudanças no tamanho, forma e características internas do tumor, avaliando a resposta ao tratamento. É fundamental entender que os efeitos da radiocirurgia são biológicos e graduais, não imediatos como na cirurgia convencional. O sucesso do tratamento é medido pela interrupção do crescimento tumoral e/ou pela sua redução progressiva ao longo do tempo, resultando no controle da doença a longo prazo.