A gliose e a microangiopatia cerebral são termos frequentemente encontrados em laudos de ressonância magnética do crânio, descrevendo alterações na substância branca, a parte mais profunda do cérebro. A gliose não é uma doença em si, mas sim um processo de cicatrização do sistema nervoso central. Ocorre quando células cerebrais chamadas neurônios são danificadas ou morrem, e células de suporte, conhecidas como células da glia (principalmente astrócitos), se multiplicam para preencher o espaço e formar uma cicatriz. Já a microangiopatia cerebral refere-se a alterações patológicas nos pequenos vasos sanguíneos do cérebro, como as arteríolas e os capilares. Essencialmente, é uma doença dos “vasinhos” cerebrais, que se tornam menos eficientes na irrigação sanguínea.
Como Aparecem na Ressonância Magnética?
Na ressonância magnética, essas alterações são tipicamente visualizadas como pequenas áreas ou pontos de hipersinal (mais brilhantes) nas sequências T2 e FLAIR, localizadas predominantemente na substância branca periventricular (ao redor dos ventrículos cerebrais) e subcortical (logo abaixo do córtex). Frequentemente, o laudo descreve esses achados como “focos de hipersinal inespecíficos” ou “alterações microangiopáticas crônicas”. A gliose é a manifestação histológica da cicatriz, enquanto a microangiopatia é a causa subjacente mais comum para o surgimento dessas cicatrizes em adultos e idosos. A distribuição e a quantidade desses pontos brilhantes ajudam o médico a entender a extensão e a possível causa do problema.
Principais Causas e Fatores de Risco
A causa mais comum para o desenvolvimento de gliose por microangiopatia é o envelhecimento natural do cérebro, sendo um achado extremamente frequente em exames de pessoas acima dos 60 anos. No entanto, o processo pode ser acelerado e agravado por fatores de risco vasculares crônicos. A hipertensão arterial (pressão alta) é o principal vilão, pois danifica continuamente a parede dos pequenos vasos. Outros fatores importantes incluem diabetes, colesterol elevado (dislipidemia), tabagismo, sedentarismo e doenças cardíacas. Em casos menos comuns, enxaqueca crônica, doenças inflamatórias ou genéticas também podem contribuir para o surgimento dessas alterações.
Significado Clínico e Sintomas Associados
Para a maioria das pessoas, especialmente quando as alterações são discretas, a gliose e a microangiopatia são achados incidentais e não causam sintomas perceptíveis. Elas representam um desgaste cerebral cumulativo ao longo dos anos. Contudo, quando as alterações se tornam mais confluentes e extensas, podem estar associadas a uma variedade de sintomas neurológicos. Estes podem incluir lentidão no processamento de informações, dificuldades de memória e atenção, alterações de humor, desequilíbrio e, em estágios mais avançados, um risco aumentado para declínio cognitivo vascular e até mesmo Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) do tipo lacunar (pequenas isquemias profundas).
O Que Fazer Diante Desse Diagnóstico?
Receber um laudo com os termos “gliose” ou “microangiopatia” não deve ser motivo para pânico, mas sim um alerta para a saúde vascular cerebral. O achado indica a necessidade de uma avaliação médica para investigar e, principalmente, controlar rigorosamente os fatores de risco. O tratamento não visa reverter as cicatrizes já formadas, mas sim prevenir a progressão do dano aos vasos sanguíneos. Isso é feito através do controle da pressão arterial, do diabetes e do colesterol, além da adoção de um estilo de vida saudável, com dieta equilibrada, atividade física regular, cessação do tabagismo e controle do peso. O acompanhamento neurológico regular é fundamental para monitorar a evolução e gerenciar qualquer sintoma que possa surgir.