A história da radiocirurgia moderna começa com o Gamma Knife, o “padrão-ouro” para lesões intracranianas, desenvolvido por Lars Leksell em 1968. Sua tecnologia baseia-se no decaimento natural de fontes de Cobalto-60 (isótopos radioativos). A engenharia da máquina é única: cerca de 192 fontes fixas são dispostas em um capacete, emitindo feixes de raios gama que convergem para um único ponto (isocentro) com precisão submilimétrica. Historicamente, ele exige a fixação de um arco estereotáxico rígido no crânio do paciente para garantir a imobilidade total, sendo BOA no tratamento de alvos profundos, malformações vasculares e doenças funcionais (como a neuralgia do trigêmeo).
Em resposta à necessidade de equipamentos mais versáteis e acessíveis, surgiram na década de 1980 as adaptações dos Aceleradores Lineares (LINAC) para radiocirurgia. Diferente do Gamma Knife, o LINAC não usa material radioativo vivo, mas gera raios-X de alta energia acelerando elétrons contra um alvo metálico. A grande inovação aqui foi a mobilidade: um braço giratório (gantry) move-se ao redor do paciente, disparando arcos de radiação. Com a introdução dos micro-colimadores e, posteriormente, dos colimadores multilâminas (MLC), tornou-se possível “esculpir” o feixe no formato exato de tumores irregulares. Máquinas dedicadas (como o TrueBeam) permitiram que hospitais usassem o mesmo equipamento para tratar um câncer de próstata de manhã e uma metástase cerebral à tarde, democratizando o acesso à técnica.
A terceira revolução foi a introdução do CyberKnife nos anos 90, criado pelo neurocirurgião John Adler para superar as limitações do arco rígido. Adler fundiu um acelerador linear compacto (um mini-LINAC) a um braço robótico industrial de alta precisão. O diferencial do CyberKnife é a flexibilidade e a inteligência de software: o robô possui 6 graus de liberdade, permitindo atacar a lesão de milhares de ângulos impossíveis para máquinas convencionais. Além disso, ele inaugurou o rastreamento em tempo real (tumor tracking), onde o robô “aprende” o padrão respiratório do paciente e corrige a mira automaticamente, permitindo tratamentos de altíssima precisão na coluna e no pulmão sem a necessidade de fixar o paciente na mesa de forma invasiva.
Atualmente, a escolha entre essas três tecnologias depende mais da logística e do tipo de lesão do que da superioridade de uma sobre a outra.